1966: NÓS RECUSAMOS...
O que se passa ao meu redor? Todo um grupo de homens vê claramente que a arte moderna não comunica e se torna cada vez mais um problema de uma elite. Então eles se voltam para a arte popular – esperando assim preencher o fosso que os separa da maioria. Consequência: eles rompem os laços que os ligavam ao desenvolvimento da arte universal e se rebaixam a uma expressão de caráter local.
Vejo um outro grupo que sente lucidamente a grande crise da expressão moderna. Os que fazem parte dele procuram negar a arte mas nada encontram para expressar essa negação além das obras de arte.
Pertenço a um terceiro grupo, que tenta provocar a participação do público. Essa participação transforma totalmente o sentido da arte como o entendíamos até então. Isso porque:
recusamos o espaço representativo e a obra como contemplação passiva.
recusamos todo mito exterior ao homem;
recusamos a obra de arte como tal e damos mais ênfase ao ato de realizar a proposição;
recusamos a duração como meio de expressão. Propomos o tempo mesmo ato como campo de experiência. Num mundo em que o homem tornou-se estranho ao seu trabalho, nós o incitamos, pela experiência, a tomar consciência da alienação em que vive;
recusamos toda transferência no objeto – mesmo no objeto que pretendesse apenas salientar o absurdo de toda expressão;
recusamos o artista que pretenda transmitir através de seu objeto uma comunicação integral de sua mensagem, sem a participação do espectador;
recusamos a idéia freudiana do homem condicionado por seu passado inconsciente e enfatizamos a noção de liberdade.
Propomos o precário como novo conceito de existência contra toda cristalização estética na duração.