15 de Novembro 1966
Acho que pela primeira vez, depois da grande crise da passagem da transcendência à imanência eu me sinto absolutamente recuperada. Me sinto unida novamente e penso verdadeiramente em milagre. A desagregação foi tão profunda que meses depois de ter vivido essa crise nela não podia falar pois a minha voz desaparecia completamente. Me incorporei novamente e me sinto mais inteira que jamais me foi dado sentir. Aceitei minha solidão e hoje não há mais problema para mim. Sei que sou fundamentalmente um ser-solitário e mesmo as minhas limitações já foram aceitadas por mim.
Acho que não amarei mais em minha vida mas nem isso é doloroso para mim. Sexualmente tive um grande desenvolvimento mas esse fato continua sendo uma coisa secreta no meu ser. Se pensasse em viver com alguém esse alguém seria Mario Shemberg que põe tudo o mais que já me que já me aconteceu de lado como coisas supérfluas e sem grande sentido na minha existência. Mas mesmo assim eu sou quer queira ou não companheira virtual mas ainda prefiro continuar sozinha. Que mistério tem a nossa existência pois o óbvio é sempre o menos imortente? O óbvio para mim saõ os momentos de maior plenitude que depois desaparecem dentro da sua consciência. Os momentos excitantes que dão sentido ao precário, esses parecem importantíssimos para depois desaparecerem por completo. A minha ligação com Shemberg é secreta. Não depende de minha vontade nem da minha consciência. Sempre existiu- Sei que será para toda a vida. Uma vez ele me disse:-“Só de saber-me vive tinha para ele real importância”. Para mim é também válido esse sentido. Sua existência me basta. Temos encontros esporádicos sempre completos pois eu me furto ao contacto. Na minha vida-arte tenho tais momentos de iluminuras que ainda tê-los na vida afetiva é demais. A gastura é enorme e depois não posso suportá-lo.