17 de Outubro de 1966
Acabei de ver uma fita sobre a vida de Cristo. Não estava interessada em revê-la pois muitas delas eu já as havia visto, mas inconscientemente, agora o percebo, longe do caráter religioso era o lado existencial que eu buscava. Embora o filme não fosse grande coisa como linguagem saí comovidíssima pois pela primeira vez eu senti a relação do que eu encontrei no filme Mariembad em que o tempo se fazia absoluto no presente na medida em que na tonalidade ele assim já o era. Essa foi a grandeza de Cristo. Ser existencial que na opção trazia em si e realizava essa mesma totalidade. Em Mariembad eu senti a luta de estar se fazendo com o sendo ou o sendo no estar se realizando. Hoje, vendo o filme eu senti que Cristo é a vida de todos nós no sentido da sua profunda existência. Em alguns de nós essa consciência é maior e portanto o fazer-se é profundamente doloroso....
A consciência da nossa totalidade e no tempo e o concretizava cada momento essa totalidade na medida do ato e da opção nos é tão doloroso como o parto. E é esse o fazer-se permanentemente sem a codificação que seria a parada do caminhar é a medida que o Cristo se deu e que nós podemos nos dar. Seria no Cristo o ajuste completo do ser-sendo ao estar sendo feito. Não entendo nada de filosofia mas estou certa de ter sentido nessa belíssima história desse belíssimo homem uma atitude puramente existencial e essa foi realmente a sua maior grandeza. Talvez no artista até o momento essa foi a atitude singular que o distinguia dos demais. E essa juventude de hoje que já nasce existencial? Seria por excelência a juventude certa? O que lhes falta? O idealismo ou a atitude romântica de ontem? Se lhes falta a opção talvez se transformem na juventude romântica.