Link: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/51356
Resumo
Esta pesquisa tem como tema o estudo detalhado de uma seleção de obras das séries Bicho e Trepante da artista Lygia Clark (1922-1988) com vistas à preservação da arte moderna brasileira. Tais obras foram produzidas na década de 1960 e foram manipuladas pelo público, conforme a proposta inovadora concebida pela artista. Atualmente, por motivos de conservação das obras, a proposta não é mais seguida. As obras da série Bicho e Trepante apresentam diversos desafios para a preservação: a introdução de novos materiais cujos agentes de deterioração são ainda desconhecidos; a adaptação de métodos construtivos industriais; a ausência de datação e assinatura nas obras; a atuação conjunta do artista com fabricantes; e o emprego de diferentes nomenclaturas para a descrição das obras (maquetes, versões, múltiplos e réplicas). Sendo assim, a pesquisa se propõe a investigar quais as motivações da artista para o uso das ligas metálicas modernas; identificar os elementos metálicos presentes nas obras por meio de equipamento de Espectroscopia de Fluorescência de Raios X por Dispersão de Energia; apontar as técnicas utilizadas pela artista; e sugerir procedimentos para preservação das obras. A metodologia empregada consistiu em pesquisa histórica e bibliográfica; exame visual das obras visando evidenciar técnicas utilizadas na sua confecção, análise por XRF para identificar os materiais constituintes e exame visual para identificar possíveis sinais de deterioração. Para tanto, seis obras foram selecionadas: O Antes é o Depois (1963) e Trepante (1965), ambas em aço inoxidável; Bicho relógio de sol (1960) e Bicho (máquina) (1962) em alumínio anodizado em amarelo; e Bicho relógio de sol (1960), Bicho (1960), Bicho (1963) em alumínio. Os resultados encontrados na pesquisa indicam que a artista elaborou suas obras, mas também contou com o auxílio de fabricantes nacionais e internacionais na elaboração de máquinas, ferramentas e técnicas construtivas. Além disso, foi possível identificar a presença de liga de alumínio nos Bichos e liga de aço inoxidável no Trepante. A aparência externa de ambas as ligas é semelhante, porém é possível distingui-las segundo critérios visuais, tais como: forma geral da obra, espessura da folha, tipo de polimento e técnica de montagem. Por fim, construímos um glossário e um panorama dos riscos associados a cada dano, bem como sugerimos recomendações para manipulação, exibição e higienização das peças. Dessa forma, é possível afirmar que o estudo dos materiais e das técnicas nas séries Bicho e Trepante da artista Lygia Clark permite reconhecer a singularidade de cada obra e propor medidas para a sua preservação.