Descrição
1965 – Um Mito Moderno: O Instante como Nostalgia do Cosmos
Estamos realmente tão perto do fim de tudo? Deveríamos então aceitar esse fim como tal, pois ele anuncia um novo começo. O homem moderno deve afastar-se desse excesso de racionalismo que está no coração de nosso pensamento. Se o século passado trouxe a consciência da morte de Deus, sentimos em nossa época, no homem, a morte da individualidade que dava um sentido à sua vida. É preciso encontrar um sentido novo que dará ao homem sua integridade. Esse sentido não pode ser constituído de valores míticos que lhe sejam exteriores. Se ele tem consciência de seus próprios limites – porque falta-lhe uma razão profunda para justificar sua existência, tendo desaparecido os valores espirituais que antes o satisfaziam – o homem deve tomar posição ante si mesmo, com toda a independência que adquiriu em sua terrível solidão. Na medida em que a participação faz desaparecer a separação entre o sujeito e o objeto, é necessário que absorvamos em nós mesmos essa relação sujeito-objeto para colocar em cheque o vazio espiritual sem significado aparente que nos cerca. O que era antigamente um elemento de riqueza espiritual, perdeu hoje todo o sentido. Nesse vazio aparente, o homem tem dificuldade de perceber o novo campo que se oferece a ele como um benefício, pois esse novo campo ainda não foi incorporado ao seu sentido de vida. O novo é precário, os valores estáticos estão ultrapassados. Agora, temos o ato se fazendo, o instante, que se transcende a ele mesmo na significação do ato puro. É do vazio espiritual que surgirá o novo sentido: nele se inscrevem todas as opções possíveis, toda expressividade latente. A magia penetra na vida. Evidência ainda mais perceptível porque o homem de hoje é a criatura mais imediata de todos os tempos, a que vive mais no instante.
Agora, o homem comum começa a chegar à posição do artista. Nunca o homem esteve tão perto de sua plenitude: ele não tem mais desculpas metafísicas. Não tem mais nada sobre o que possa projetar-se. Está livre da irresponsabilidade. Não pode mais nem mesmo negar-se como ser total. Já que nenhuma transferência é mais possível, resta-lhe viver o presente, a arte sem arte, como uma nova realidade.