1968 – Estamos domesticados?
Se eu fosse mais jovem, faria política. Sinto-me por demais à vontade. Integrada demais.
Antes, os artistas eram marginalizados. Hoje, nós, os propositores, estamos muito bem colocados no mundo. Conseguimos sobreviver – apenas propondo. Há um lugar para nós na sociedade.
Existe um outro tipo de pessoas que prepara o que vai acontecer, outros precursores. A eles, a sociedade continua a marginalizar. No Brasil, quando houve uma briga com a polícia e eu vi um jovem de 17 anos ser assassinado (coloquei sua foto na parede de meu atelier), tomei consciência de que ele cavou com seu corpo um lugar para as gerações posteriores. Esses jovens têm a mesma atitude existencial que nós, lançam processos dos quais não conhecem o fim, abrem caminho onde a saída é desconhecida. Mas a resistência da sociedade é maior e ela os mata. É porque eles atuam mais do que nós. O que tentam forçar é talvez mais essencial. São incendiários. São eles que balançam o mundo. Quanto a nós, às vezes me pergunto se não estamos um pouco domesticados. Isso me chateia...