Lygia Clark

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Crise terrível. Quase tão terrível quanto a do Caminhando. [Diário 1]

Tipo de documento
DiárioTipo de documento
Forma de registro
DatilografiaTécnica
Idioma
Data de produção
17.03.1969
Linha do Tempo
1
Local (cidade/país)
Autor(a)
Transcrição texto



17 de março de 1969



Crise terrivel. Quase taõ terrivel como a do caminhando.

Provinda da tomada de consciencia de que perdi minha identidade...Talvez devido a seçaõ Au Bon Marché em que os outros é que falam por si mesmos. Já sonhei duas vezes que havia perdido mesmo minha identidade. A primeira vez durante a minha estadia no Brasil no dia seguinte que tirei a pinta da boca. A pinta sempre foi a minha diferenciaçaõ. Por causa dela chamei de “bichos“ os meus trabalhos e 1959 pois ela era apontada pelos garotos quando criança que diziam :-Bicho !

Hoje tivr um sonho que muito me aterrorizou. Acordei quase fora da realidade e me foi preciso de um bom momento para me sentir integrada na realidade outra vez.

Primeiro sonhei que via uma bacia : no fundo da mesma eu via alguns bagos de feijaõ preto e restos de arroz. Pensei é o quem restou de mim e o resto foi incorporado por outra pessoa. (Talvez essa outra pessoas seja eu mesma nascida outra vez).

Sonho em seguida com minha irmã Sonia que simboliza meu lado fragil e dependencia infantil. Ela estava operada a morte e precisava ser operada com urgencia. Queria telefonar para o Paulo, simbolo de pae, mas meu pae e minha mãe naõ queriam pois era o meu amante. Me vi num grupo extranho entre meu pae e minha mãe e ainda outras pessoas de negro (mortalha) e tive que dizer que ia chamar o Paulo. Parece que naõ houve um gde reaçaõ contra como esperava. Ela foi operada e voltando para casa ficou aos meus cuidados. Tirou uma especie de esponja dura das costas que cerscia e já estava grande. Me vi entrando num carro que era do Paulo e vi um grande cachorro que estava dentro do carro- Havia tambem dentro do carro uma bengala. Estava no chaõ. Paulo estava perto com outras pessoas quando entrei dentro do carro. Me vejo outra vez no quarto da operada que desta vez era Beth minha filha. (simboliza crescimento, nascimento, força enfim a parte de mim que foi analizada. Vejo que ela está sem fazer repouzo algum, fico furiosa e mostro a ela pensos de sangue que estaõ em cima da cama que caío do seu corte operatorio. Ela se ri de mim, eu a vejo em seguida noutra cama lendo tranquilamente um livro e fico furiosa. Vejo Tininha uma sua amiga que é menos equiçibrada que ela e diz coisas para eu ficar zangada. Beth me chama e pergunta se escutei. Mando Tininha á merda.

Depois de acordada comecei a pensar na minha nova serie que chamo P Homem como estrutura viva, isso no sentido dele sustentar com o proprio corpo experiencias feitas por ele e outros ao mesmo tempo. É o suporte da propria expreçaõ tambem. Antes havia pensado na minha crize como a perda da estrutura pois o objeto já naõ me interessa e nem o espaço reprentaivo taõ pouco. Mas no momento em que penso no homem como a propria estrutura tudo fica mais claro para mim pois antes se fazia uma estrutura concebida pelo homem, artista e para mim era uma projeçaõ ainda de uma poetica exterior a ele mesmo. Foi atravez do Au, bon marche que eu abdico de formular qualquer estrutura. Devo ter vivido tudo isso como processo de sentido de perda e desagregaçaõ. No momento em que formulo com o proprio homem essa estrutura perdida eu me restruturo interiormente e faço com que o homem ele mesmo seja o proprio suporte da expreçaõ. (antes era o quadro e o objeto e ainda havia a transferencia. Será que eu estou sendo salva esse caminho ? Agora é o próprio homem-estrutura que é o suporte da expreçaõ. Acho lindo esse problema. Se naõ melhorar procurarei um analista com urgência pois preciso de ajuda.

O sonho contado atraz está ligado agora o percebo com o utero que penso em fazer dependurado nas costas de um homem onde entra uma pessoas. A estrutura viva que é o homem que carrega essa coisa nas costas coloca sobre si mesmo uma mascara orgaõ. Entaõ o que crescia nas costas se Sonia; eu a parte minha fragial, era esse novo conceito. Achei no sonho que era um tumor grave que devia ser operado e o faço operar mas quando Beth aparece operada e rindo de mim (minha parte consciente e equilibrada) tomo consciencia de que naõ era coisa grave mas sem importancia. Entaõ a crize pode ser essa nova estrutura viva que começo a formular...Talvez a viva perigosa ainda. Quero corta-la de mim aflita e tambem deve entrar aí o conceito da castraçaõ pois um medico que era o Paulo devia saber do que se tratava e a familia toda de luto naõ aprovava. Talvez viva essa nova estrutura como um falus gigantesco que é preciso cortar e ao mesmo tempo fica sendo como uma blague depois da operaçaõ, Beth tranquila estava estudando, produzindo e eu fiquei 4spantada pois via os pensos de sangue que saira do corte, curativo . O cachorro no, carro simboliza animalidade e o bastaõ defesa.

Tive a necessidade de fazer uma especie de anlise de todas as minhas fazes para tomar melhor consciencia dessa nova em que o homem é o suporte vivo da expreçaõ.

1)    Bicho, organismo vivo.

2)    Caminhando, acaba a autoria da obra de arte.

3)    Trepante, o organico que se agarra em um suporte (ou caixa ou tronco ou ainda um portal.

4)    Caixa, o suporte integrado na forma geometrica (estrutura) 

5)    O Homem objeto de si mesmo. (objetos sensoriaes) Introspecçaõ total, regreçaõ aparente.

6)    Labirinto (nascimento) Espaço dado ao homem para que ele viva um periodo de regreçaõ.

7)    Mascaras orgaõs. O próprio orgaõ é taõ importante como o corpo do homem. Taõ estrutura como ele proprio. É um apendice em que ele começa a se religar com os proprios membros.

8)    Au bon marché. Naõ formulo estrutura (nem ainda como no Caminhando e só dou o conceito . O objeto é da autoria do outro 

9)    Homem como estrutura viva. suporte para a introspectaçaõ propria e suporte vivo para experiencia do outro. Ligaçaõ com o coletivo. Extroversaõ e crescimento interior.



O bicho era um organismo vivo mas ainda objeto da participaçaõ.

O Caminhando era um suporte em que o ato era o seu unico significado

O Trepante é ainda a volta ao objeto com participaçaõ do espectador. Se expressa colado a qualquer suporte como portaes, caixas, troncos etc.

A Caixa é o Trepante com o seu próprio suporte

O Homem objeto de si mesmo passa a ser o proprio suporte onde se processa o fenomeno para si mesmo e para outros.

O Homem substitue o Bicho no sentido de que ele mesmo é um organismo vivo.

Substitue o Caminhando na medida em que, ele é a propria estrutura (dada ainda no Caminhando.

Substitue o suporte dado ao Trepante e outros Trepantes, Mascaras orgaõs se dependuram nele mesmo para a participaçaõ do espectador e dele mesmo.

O Homem substitue a caixa como suporte da expreçaõ

O Homem deixa de ser objeto desi mesmo para ser objeto do outro e aí acaba a regrçaõ.

Ele está no espaço vivo real, já situado e é objeto de introspecçaõ e extroversaõ.

É pois um religamento da estrutura ao conceito (o oposto do Au Bon Marché.)

Na medida em que ele seccionou todos os seus orgaõs para reconhece-los ele agora está intei o como estrutura do proprio conceito e vira uma totalidade. Se religa novamente, se comunica com o mundo, se desenvolve para fora de si mesmo dando ao outro um suporte para que, ele tambem se expresse.

Os orgaõs e o homem já se religam. Na estrutura viva Homem se passam fenomenos (trepantes 1 abrigos ) onde o par entra e faz uma experiencia conjunta com o suporte que por outro lado fazendo a sua experiencia, sente tambem o processo do outro.

Todo o problema interior era o fim do suporte (estrutura) que se deu no Au Bom Marche e somado a isso a negaçaõ de um  espaço onde situar ainda o proprio homem.

Os sonhos de perda de identidade devem estar ligados com a perda da estrutura. Sem uma estrutura-conceito naõ ha desenvolvimento (crescimento).

ID
65541

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