Lygia Clark

Acervo

Textual

Conversando com Camargo a respeito de todas as percepções do " O Dentro é o Fora" [Diário 1]

Tipo de documento
DiárioTipo de documento
Forma de registro
DatilografiaTécnica
Idioma
Data aproximada
21-08-1971
Data de produção
21.08.1971
Local (cidade/país)
Autor(a)
Transcrição texto




21 de agosto de 1971



Depois de uma noite agitadissima conversando com Camargo a respeito de todas as percepções do O dentro é o fora, fiquei taõ amarrada que pensei que ia deixar de fumar. 

Li um pouco o Groddeck e vi que varias percepções dele coincidiam com o que escrevi ha anos no meu caderno a respeito do que se chama de alma. Para mim tambem era a introjecçaõ do ar no momento de nascer que era a alma da pessoa tomava logar no seu corpo.

Quase dormindo recebi um telefonema do Ralf Camargo de Saõ Paulo que quer me expor lá no mes de Novembro.

Fiquei icitadisssima tive medo de ser má noticias de papae e para dormir depois disso tive que colocar cera nos ouvidos, tomar 2 mogadons. Me deu uma fome monstrua e levantei-me e comi como se jantasse .....

Sonhei: a primeira parte naõ me lembro mas a segunda era de que entrando num quarto vi o homem do outro sonho noutro dia que eu estava apaixonada por ele, que pensei em Decio. Ele estava com o corpo escondido entre dois colchões a cabeça de fora mas coberto por uma camada de plastico que era um lençõl. Passei a maõ na sua cabeça sempre impressionada de ver o corpo sumido entre os dois colchões. 

Vi na outra cama uma criança que dormia coberta tambem por esse lençol de plastico. 

Esse plastico é um dos meus trabalhos e pode ter significado duplo morte e nascimento. O homem estava vivo mas a criança parecia um feto em gestaçaõ. Esse plastico é tambem para mim um simbolo. Ele substitue o tunel preto da incomunicabilidade que era o meu sonho chave antes da minha ultima fase...

A cabeça pode significar a minha paixaõ de criança, paixaõ sem ventre , naõ! Eu naõ sei interpretar esse sonho. Alias muitos deles eu tambem naõ consigo e talvez no Brasil eu va ao Gerson Borsoi para que ele conversando comigo talvez me reanalise outra vez. Diz Groddeck que na menopausa a gente , a mulher cria novos simbolos.

A impreçaõ que eu tenho é que está acontecendo comigo e saõ simbolos mais proximos da realidade do que está acontecendo.


ID
65645