Lygia Clark

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Vou tentar contar aqui coisas que jamais o fiz. [Diário 1]

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DiaryDocument Type
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DatilografiaArt Medium
inLanguage
PortuguêsLanguage
dateBegin
09.07.1971
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transcription

9 de julho de 1971


Vou tentar contar aqui coisas que jamais o fiz. Em 1948 vim para Paris, depois da grande crise para estudar pintura. Nesse ponto é que sempre digo que Aluizio era formidavel. Alem de naõ me impedir ele ainda me sustentou aqui com os 3 filhos até 1950. Eduardo estava taõ pequeno que começou a falar aqui. Tomamos um apt na Av. Kleber e pela primeira vez depois de casada tive uma mezada por mes o que me deu um grande sentido de liberdade. Tive como era de esperar uma grande paixaõ que foi um rapaz que me ensinou a falar o frances. Silvestre Falcon. Era culto super sensivel e nos adoramos. Dessa ligaçaõ saiu muita tragedia. Ele partiu para Lyon depois de fazer uma psicoanalise com um medico que se chamava Bajor. O mesmo me conhecendo teve por mim um grande paixaõ e mandar Silvester para Lyon era para deixar-lhe campo livre para me conquistar. Eu que nunca havia feito uma nalise e naõ sabia o que era transfert acabei dormindo com o mesmo o que deu-me um grande sentimento de culpa em relaçaõ ao Silvestre quando ele veio me ver. Naõ pude mesmo dormir com ele e naõ lhe contei a aventura com o Bajor pois Silvestre o adorava e como! Nesse intervalo minha copeira dormiu com o porteiro e a proprietaria me pediu que a despedisse. Assim o fiz e ela fez o maior mal que poderia ter feito. Roubou cartas do Silvestre para mostrar a minha filha que tinha nessa epoca uns 10 anos o que provocou na mesma uma falsa tentativa de suicidio... Ainda a copeira passou asc cartas para o seu amante que era depois viria a saber um criminoso suisso procurado pela interpol. Ele começou a me telefonar e ameaçar a mandar as cartas para Aluizio no Brasil! Bajor, para isso serviu pediu que eu marcasse um encontro com o criminoso e eu o fiz. Place Pigalle, lenço vermelho no pescoço e eu eu preto. Parecia romance policial. Levei o Bajor de carro até a praça Pigalle e meus dentes batiam uns contra os outros de fazer barulho. Morta de medo o deixei lá e voltei para casa. Tarde na noite Bajor volta com olho poché. Havia levado um murro espetacular do canalha. Contou que o atraiu no jardim e disse:_ Mme clark disse que você pode limpar o cu com as mesmas, ela naõ dá um tostaõ pelas cartas.”

Foi nesse momento que o canalha lhe deu o murro mas o Bajor que era muito inteligente, chamou um policia que estava passando lhe dizendo que o canalha lhe havia batido porque havia recusado fogo para o seu cigarro-Pediu ao policia que tomasse nota do nome  do mesmo, carteira de identidade e assim ele ficou sem poder fazer nada..... Que vida! 

Telefonaram depois disso ameaçando raptar as crianças do colegio e eu apavorada tive que la ir para dizer que naõ as deixassem sair a naõ ser com a governanta. Tinha até governanta..... Outro episodio aconteceu. Uma noite tendo ido só a um cinema de Champs Elisee fui na volta para casa quase assaltada na rua em frente do meu apt. Vinha vindo uma senhora e eu correndo em sua direçaõ pedi socorro.

Ela era a mulher de um tal de sientista que fazia transplantaçaõ nos orgaõs masculinos, estou doida, ele fazia era rejuvenescimento nos homens com glandulas de macacos. Era uma lesbica que passou a me telefonar e queria me dar de presente até vestidos de Dior ! Fui aluna de Arpada Szenes que era casado com a pintora Vieira da Silva, de Fernand Leger e de Dobrinsky o menos conhecido porem o melhor de todos como mestre....Rumeno, escultor e pintor raté e passamos 12 horas por dia fazendo pintura e desenhos. Só fiz aqui uma coisa boa. Eram desenhos de escadas. O resto, pintura etc era uma merda completa. Na realidade naõ fiz nada que prestasse tando quanto o que havia feito com Roberto Burle Marx no Brasil. Esse foi um mestre extraordinario e Zelia Salgado tambem muito ajudava a abrir a sensibilidade da gente. Voltando a Paris. Bajor naõ se conformava que o meu problema que era de naõ gozar com o penis persistisse e queria que eu gozasse com ele. Levou-me naõ sei onde e me aplicou uma ingeçaõ na veia. Voltei para casa depois de ter dito muita coisa que mostrava ser minha fixaçaõ na mãe tambem. Em casa, deitada na cama vi derepente que o quarto todo desmoronava na minha cabeça e dei um grito horrivel. Naõ sei como naõ fiquei maluca de vez..... Me disse mais tarde no Brasil o Kemper que se naõ havia ficado louca nesse momento naõ ficaria nunca mais. Depois conheci um tal de Claude. Rapaz terno e sensivel. O meu caso eu dei por encerrado com o Silvestre mal sabendo que ele iria ao Brasil atrz de mim depois de já estar casada com o Marcondes !

Lá chegando telefonou de Saõ Paulo e o Marcondes que era um Mouro de ciumento atendeu e disse ser meu novo marido. Depois o vi em Saõ Paulo num restaurant e confeço que naõ tive coragem de cumprimenta-lo o que considero a suprema canalhisse da toda minha vida ! Era taõ inconstante que na volta no navio fiquei amante do comandante o que foi o escandalo da viagem Levava uma governanta francesa linda e jovem que mais tarde me daria as maiores dor de cabeça da minha vida isso no Brasi.

O capitaõ ficou louco por mim e me deu 2 livros maravilhosos um de Mirbeaux e outro já naõ sei, sim era de poesia. Foi ao Brasil me ver e me escrevia cartas apaixonadissimas. Lá chegando me separei de Aluisio e comecei desde essa epoca a passar miseria, relativa. Fiquei com 16 apts e uma garagem que dava para alugar para 60 carros. Naõ dava renda pois os alugueis estavam congelados.

ID
65602